Companhias de "Baixo Custo" começam a se ajustar ao mercado

Resultados da irlandesa RyanAir e da brasileira Gol forçam empresas a rever estratégia

Por Mario Teixeira

Já foi o tempo em que as companhias low cost low fare “nadavam de braçada”, como se diz na linguagem coloquial. Com tarifas bem mais baixas e a eliminação de alguns serviços, como a alimentação a bordo, passando a cobrar pelo lanche, assim como a cobrança pelo despacho de bagagem, ajudaram a popularizar a aviação. Aqui, como em todos os continentes, tornou-se mais em conta viajar de avião que enfrentar longas horas de ônibus.

 

Em todos o mundo elas chegaram com vigor impressionante, ao longo desses últimos 20 anos, transformaram o perfil da aviação, ajudaram a canibalizar algumas empresas e hoje cumprem seu ciclo de transformação. O grande desafio que se impõe a todas as companhias aéreas de baixo custo e baixo preço no mundo é a necessidade de adequação de sua frota à realidade dos mercados. Com a multiplicação das empresas e a concorrência, principalmente nos mercados americano e europeu, o bolo acabou sendo muito repartido.

 

A companhia irlandesa RyanAir, uma das líderes da aviação européia, anunciou na última segunda-feira um prejuízo em seu balanço de 2012, cujo ano fiscal terminou em março de 2013, de 44,4 milhões de euros. No Brasil, a Gol Linhas Aéreas, considerada a maior empresa de baixo custo da América Latina, também apurou resultado negativo no último ano. Ambas apontam a diminuição do volume de passageiros como um dos principais motivos para a queda de suas receitas.

 

Embora os balanços signifiquem uma “dor de cabeça” para as companhias, também apontam para soluções urgentes, sob o risco de, esquecendo-se as regras do mercado, acabarem aumentando o rol de empresas que ficaram pelo caminho. Algumas companhias aéreas decretaram falência e deixaram todos seus clientes em solo. Entretanto, apesar do cenário cinzento, num mercado competitivo, como o europeu, o número de empresas cresce a cada ano. Até as tradicionais e gigantes empresas aéreas, como o grupo Air France-KLM, decidiu investir nesse segmento, lançando esse ano a Hop!, uma fusão das filiais regionais da Britair e Regional, com a companhia aérea Airlinair.

 

Mesmo sinalizando que ainda há espaço a ser ocupado, essas novas empresas criam expectativas para passageiros e para o mercado. No primeiro caso, de melhores promoções e novas rotas a serem exploradas, oferecendo um serviço diferenciado e tendo na retaguarda empresas de confiança. Para o mercado, entretanto, significa que o número de passageiros daquelas companhias que não souberem dar uma resposta imediata pode diminuir ainda mais. Nessa hora, a decisão mais estratégica é ampliar seu mercado através de parcerias, como o sistema code share, que vem sendo praticado entre Gol e Delta, ampliando a capacidade de atendimento de ambas.

 

Segundo a assessoria do Gol Linhas Aéreas, a empresa tem investido na eficiência operacional, tornando-se a mais pontual do mercado brasileiro, com um índice de 95% de partidas no horário; investindo no check-in não presencial, que atingiu 60% no primeiro trimestre de 2013; e implantação de uma nova malha aérea. A parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para o transporte da seleção brasileira até 2016, apontada como um grande negócio e um gol de placa no marketing, pode ajudar a alavancar o mercado nacional, que tem apresentado queda.

 

Dados da empresa apontam que, no primeiro trimestre de 2013, a oferta e a demanda da indústria doméstica apresentaram queda de 7,9% e 1,3%, em comparação ao primeiro trimestre de 2012. O efeito da redução de oferta foi o aumento de 5% na taxa de ocupação das aeronaves. A empresa fez uma reengenharia de sua estratégia, principalmente por conta da queda de 15,7% da oferta doméstica no primeiro trimestre do ano, em razão do encerramento das operações da Webjet. No mercado internacional, a criação de novas rotas, como a ligando o Brasil a Santo Domingo, Miami e Orlando, com vôos diários a partir do final de 2012, contribuiu para um aumento de 34% em relação ao mesmo período do ano anterior.

 

Apesar do prejuízo líquido de R$ 1,512 bilhão, apurado no exercício de 2012, a companhia tem buscado respostas para reverter o quadro. A velocidade da resposta ao novo cenário econômico mundial e a busca de equações que permitam a ampliação do mercado com a redução de custo são essenciais para a saúde das empresas. Velocidade, em todos os sentidos, precisa ser a marca da companhia de sucesso.

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