Temporada aquece oferta de emprego em cruzeiros

Navio Diamond Princess, no porto de Whittier, no Alaska. Cinco tripulantes brasileiros e 45 passageiros das regiões Sul e Sudeste (Foto: Mario Teixeira)

Por Mario Teixeira

Em época de crise econômica, salários pagos em dólar costumam ser um grande incentivo. Junte-se a isso a possibilidade de conhecer, gratuitamente, novos países e culturas. Entretanto, para aqueles que investem nas vagas para tripulantes de navios de cruzeiro, nem tudo são flores. Eles, porém, garantem que o saldo é sempre positivo, principalmente devido as gorjetas, que podem melhorar, e muito, o salário ao final de cada mês.

Embora tenhamos cruzeiros no Brasil apenas durante o Verão, indo de outubro a abril, as oportunidades são permanentes e a qualquer época do ano é fácil encontrar vagas. As exigências principais são idade entre 18 e 35 anos, em sua grande maioria; ensino médio completo; inglês intermediário para fluente; atitude positiva; espírito de grupo; e conhecimento da área a que está se candidatando. Uma vez embarcado é muito fácil renovar os contratos, já que um dos grandes problemas enfrentados pelas companhias é a falta de mão de obra qualificada.

Garçom participa da Noite Italiana: cultura e diversão (Foto: Divulgação/Infinity Brazil)

- Os contratos são, em média, de seis a oito meses. A intenção das companhias é justamente renovar esse contrato, pois assim terão um tripulante já treinado e preparado para o trabalho a bordo. As companhias incentivam para que o tripulante faça carreira a bordo – frisou Marcelo Del Bel, recrutador da Infinity Brazil, uma das principais empresas de contratação de tripulantes do país.

A preocupação em buscar novos tripulantes, principalmente com o aquecimento dos cruzeiros e a abertura de novos destinos fez com que companhias como o grupo italiano Costa Crociere e sua parceira espanhola Ibero Cruceros lançassem uma ferramenta própria para a contratação de funcionários. A Job Navio explica passo a passo as etapas que o candidato terá de seguir para conseguir sua vaga a bordo. Ele tem acesso a todos os postos disponíveis, divididos em 11 categorias: Bar; Crew (limpeza de cabines e áreas comuns da tripulação); Entertainment (diversão, esporte e lazer); Galley (cozinha); Guest Service (atendimento direto aos hóspedes); Hotel; Housekeeping (limpeza de cabines e áreas comuns aos passageiros); Photo (produção de fotos e vídeos); Restaurant; Store (manuseio de material a bordo); e Tours (excursões). Ao selecionar uma função de sua preferência, o candidato tem em detalhes as características e habilidades necessárias para exercer a atividade.

O tripulante brasileiro tem um grande diferencial nesse segmento. Segundo a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (CLIA ABREMAR BRASIL), além da simpatia, dedicação e iniciativa, marcas do brasileiro, existe a Instrução Normativa 71, instituída em 2005, que prevê a contratação de um mínimo de 25% de trabalhadores nacionais nos cruzeiros que passarem por cidades brasileiras. Isso faz com que sejamos o segundo grupo em contratação para os navios em todo o mundo e garante aos tripulantes nacionais uma boa cotação e excelentes contratos.

Rotina árdua, mas compensada pelo salário e pela oportunidade de conhecer outros países e culturas (Foto: Divulgação/Infinity Brazil)

Segundo a nota da Royal Caribbean sobre a contratação de tripulantes, o número de brasileiros viajando em cruzeiros vem aumentando e muitos não dominam outros idiomas. Diante disso, há a necessidade permanente de contratação de profissionais. A empresa garante que as vagas estão abertas não apenas para o único navio na costa brasileira, mas também para os cerca de 40 que cruzam águas internacionais, pelas companhias Azamara, Celebrity Cruises, Pullmantur e Royal Caribbean. Os contratos são regidos por legislação internacional e depende da patente do funcionário e da posição. Por exemplo, o comandante de um navio passa quatro meses no mar e quatro meses em casa. Caso haja interesse na recontratação, a companhia vai avisar para qual navio ele será destacado ao voltar das férias, podendo ser na mesma embarcação ou em qualquer outra do grupo.

 Os salários não variam muito entre as empresas (vide quadro abaixo). O Grupo Costa admite que o tripulante sem qualificação começa ganhando US$ 600. Cada profissão tem suas habilidades específicas, como no caso dos médicos e enfermeiros, que precisam ter mais de 21 anos, inglês e espanhol avançados e experiência nas áreas de Emergência e/ou Traumatologia. O Lounge Technician, por exemplo, ficará encarregado de fazer ajustes de som e iluminação nos diversos palcos do navio e deverá ter inglês avançado. Vale lembrar ainda que esses valores não incluem as gorjetas que poderão ocorrer, principalmente para funcionários de bar e restaurante, assim como camareiros.

Nos cruzeiros da Royal Caribbean, que acaba de abrir 300 vagas para a próxima temporada, é possível pagar antecipadamente as gorjetas, sendo que no penúltimo dia do cruzeiro o passageiro recebe envelopes com os vouchers no valor das gorjetas para camareiro, garçom, ajudante de garçom e maître. Nos grupos Princess e Costa são feitos lançamentos diários das gorjetas em sua conta, mas, caso você mesmo queira dá-las pessoalmente, basta avisar no Guest Service que eles retiram da conta, ficando a cargo do cliente agradecer aqueles que melhor lhe serviram. Normalmente o valor é dividido entre o camareiro e os garçons, que se esmeram em fazer da viagem um momento inesquecível. Quão melhor for o atendimento, maiores as chances de garantir uma boa gorjeta ao fim de cada cruzeiro. Se forem cruzeiros de sete dias, basta multiplicar essa possibilidade por quatro e adicionar ao salário. Depois é esperar os meses de folga e aproveitar ao máximo.

Estudo mostra impacto dos cruzeiros na economia

Um estudo feito pela CLIA ABREMAR BRASIL, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mensurou o impacto econômico dos cruzeiros no país, não apenas na geração de renda nos próprios navios, com a contratação de profissionais, mas principalmente na movimentação turística nas cidades que funcionam como embarque/desembarque e trânsito. O incremento do poder aquisitivo da população, o aumento do consumo e a facilidade do pagamento dos pacotes, alguns com financiamento em até 10 vezes, influenciaram positivamente o crescimento da demanda por cruzeiros marítimos.

Da temporada de 2004/2005 até 2010/2011, segundo o estudo, houve um salto de mais de 450% no número de cruzeiristas, saltando de 139.430 passageiros na primeira temporada avaliada para 792.752, em 2011. Os impactos totais, diretos e indiretos dos armadores e cruzeiristas, chegou a R$ 1,4 bilhão, sendo R$ 893,5 milhões gerados pelos gastos de armadores na compra de suprimentos, custos portuários e combustíveis e R$ 522,5 milhões gerados pelos cruzeiristas nos portos de embarque/desembarque e de trânsito.

O Rio de Janeiro é o segundo porto em movimentação de embarque/desembarque e era o primeiro em geração de renda (Foto: Divulgação/Pier Mauá)

As cidades portuárias são as que mais se beneficiaram com os gastos dos cruzeiristas e tripulantes. Considerando a movimentação gerada com os gastos dos cruzeiristas e tripulantes a partir das escalas, embarque e desembarque, na temporada 2010/2011, o impacto total de R$ 522,5 milhões dividiu-se da seguinte forma: R$ 102,9 milhões foram gerados na cidade do Rio de Janeiro; R$ 86,6 milhões em Santos; R$ 57,0 milhões em Búzios; R$ 43,9 milhões em Salvador; R$ 42,3 milhões em ilhabela; e R$ 189,8 milhões nos demais portos e cidades, visto que os impactos indiretos também impactam em outras cidades que não são portuárias, como o caso do transporte aéreo de passageiros.

Importante ressaltar que Santos e Rio de Janeiro são os principais portos de embarque e desembarque do País e, consequentemente, são mais impactados pelos turistas que permanecem nas cidades antes e/ou após o período de viagem. Rio de Janeiro, além de importante porto de embarque/desembarque, se destaca junto a Búzios como importante porto de escala, seguido de Salvador e ilhabela.

Na temporada 2010/2011, o setor de cruzeiros marítimos gerou aproximadamente 20.638 postos de trabalho na economia brasileira, sendo 5.603 tripulantes dos navios e 15.035 gerados, de forma direta e indireta, pelos gastos dos turistas nas cidades portuárias e na cadeia produtiva de apoio ao setor. Além dos empregos em escritórios regionais das operadoras de vendas, marketing e atendimento a clientes dos cruzeiros marítimos, são gerados postos de trabalho durante a temporada. Em especial nos terminais portuários e na cidade como um todo (comércio, bares e restaurantes, receptivo, transporte e atrativos turísticos), movimentando toda a cadeia de serviços locais.


No Brasil, a lei de cabotagem exige que 25% da tripulação de cada navio seja composta por brasileiros. Como o piso salarial a bordo é acima da média brasileira, muitos jovens se capacitam em idiomas, turismo e hotelaria para disputar esses postos de trabalho. Além disso, o ambiente do navio favorece o intercâmbio cultural com a tripulação de diferentes nacionalidades, a qualificação profissional e oportunidade de trabalho no exterior.

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