Brasil quer ser terceira potência turística mundial até 2022

Em entrevista exclusiva o ministro do Turismo, Gastão Vieira, afirmou que a falta de infraestrutura e a política tributária são entraves para o desenvolvimento do turismo no país, segundo dados do Fórum Econômico Mundial

Por Mario Teixeira

 

Ministro comemorou a regulamentação do Plano Nacional de Turismo, publicado hoje no Diário Oficial da União (Foto: Johnnys Julio)


Eu Ando pelo Mundo - Como o senhor analisa o turismo no país?

Ministro Gastão Vieira - O turismo é uma vocação do Brasil, uma âncora segura contra crises econômicas externas e um setor da economia que cresceu 6% no ano passado enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) praticamente estagnou. Além disso, é uma das maneiras mais rápidas e baratas que possuímos de gerar emprego e renda com redução das desigualdades regionais e sustentabilidade ambiental. O Brasil é considerado o país número 1 do mundo em recursos naturais para o turismo. Precisamos cada vez mais transformar nossos atrativos naturais e culturais em valor agregado na economia.

 

Eu Ando pelo Mundo - Em números globais, qual o incremento do turismo no Brasil na última década?

Ministro Gastão Vieira - A participação direta na economia subiu de US$ 24,3 bilhões em 2003 para US$ 76,9 bilhões em 2012; o número de viagens domésticas foi de 138,7 milhões em 2005 para 197 milhões em 2012; de 2003 para 2012, o número de desembarques internacionais dobrou e o de nacionais quase triplicou; os financiamentos concedidos por bancos estatais para o turismo saltaram de R$ 1 bilhão em 2003 para R$ 11 bilhões em 2012; e o estoque de empregos formais nas atividades características do turismo subiu de 1,72 milhão em 2003 para quase 3 milhões em 2012.

 

Eu Ando pelo Mundo - Em relação ao PIB, qual a participação do setor?

Ministro Gastão Vieira - O turismo responde por 3,7% do PIB brasileiro, segundo o dado mais recente do IBGE, que é de 2007.

 

Eu Ando pelo Mundo - Embora seja reconhecido internacionalmente por suas belezas naturais e hospitalidade, o que atrapalha o desenvolvimento do turismo?

Ministro Gastão Vieira - Segundo o Índice de Competitividade de Viagens e Turismo 2013 do Fórum Econômico Mundial, o que joga para baixo a competitividade do Brasil são a infraestrutura e o ambiente de negócios, em especial a política tributária.O governo tem tomado medidas concretas para resolver esses dois gargalos, como explico abaixo. Mesmo com esses problemas, o Brasil subiu no ranking do fórum econômico, ficando em 51o lugar entre 140 países em competitividade no setor de turismo. A atração de turistas estrangeiros esbarra, ainda, no câmbio, que é um dado de realidade contra o qual não podemos lutar.

 

Eu Ando pelo Mundo - Como reverter o baixo desempenho turístico do país?

Ministro Gastão Vieira - Não podemos dizer que o Brasil tem um "baixo desempenho" turístico; somos o sexto PIB de turismo do mundo e temos um mercado interno fortíssimo, representado por uma classe média que é metade da população. O Plano Nacional de Turismo, cuja regulamentação saiu hoje no Diário Oficial da União, traça nossas metas para os próximos anos e detalha as ações que precisamos adotar para chegar aonde queremos chegar: queremos ser a terceira potência turística do mundo em 2022. Para isso, precisamos resolver gargalos de ambiente de negócios e estimular o turismo doméstico -- o que estamos fazendo por meio do programa Viaja Mais Melhor Idade, que será lançado para o público proximamente para estimular idosos e aposentados a viajar na baixa estação. Programas semelhantes já estão sendo estudados para jovens e trabalhadores.

 

 

Eu Ando pelo Mundo - Além dessas ações que irão atrair automaticamente visitantes ao nosso país, como Jornada Mundial da Juventude, Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas, o  que o Brasil tem feito para chegar ao turista estrangeiro?

Ministro Gastão Vieira - A Embratur é a responsável pela promoção internacional do Brasil. Porém, sabemos que a empresa tem trabalhado fortemente para aproveitar os eventos como fator de atração, com a campanha Goal to Brazil.

 

Eu Ando pelo Mundo - O senhor acredita que esses grandes eventos ajudarão a alavancar o turismo nacional?

Ministro Gastão Vieira - Sem dúvida. Os grandes eventos têm o condão de colocar o país em evidência no exterior, funcionando como promotores dos nossos destinos turísticos. Além disso, demandam investimentos, que estão sendo feitos, em infraestrutura portuária, aeroportuária, rodoviária e de mobilidade urbana, que são gargalos ao turismo. Porém, não podemos nos deitar em berço esplêndido esperando que os turistas passem a inundar o país após os grandes eventos. Precisamos trabalhar duro antes e depois da Copa para qualificar nossa mão de obra turística, nossa promoção internacional e nossos meios de hospedagem. O trabalho mais duro do Ministério do Turismo começa no momento do apito final da Copa.

 

Eu Ando pelo Mundo - Na época do presidente Lula ele chegou a rascunhar um projeto de turismo integrado na America do Sul. Isso saiu do papel? Como está esse projeto?

Ministro Gastão Vieira - Houve tratativas nesse sentido dentro de um grupo de trabalho formado no âmbito da Organização do Tratado de Cooperação da Amazônia (OTCA), que no entanto não evoluíram a contento por falta de envolvimento da iniciativa privada. A estruturação da integração turística na Amazônia é estratégica para o Brasil, e queremos aproveitar a pavimentação da estrada Bioceânica, uma estrada de cerca de 4 mil km que ligará o porto de Santos aos portos de Arica e Iquique, no Chile, cortando também a Bolívia, para realizá-la.

 

Governo abriu estudos para devolver a turistas parte dos gastos feitos com serviços (Foto: Paulino Menezes)

Eu Ando pelo Mundo - Por que é mais barato viajar para o exterior que fazer turismo interno?

Ministro Gastão Vieira - Essa é uma generalização perigosa. Depende, obviamente, de para onde se viaja aqui dentro ou lá fora. Dito isso, há alguns fatores a tornar Brasil um país caro para o turista. Um deles é o câmbio; a valorização do real em relação ao dólar nos últimos anos tirou parte da nossa competitividade de preços. Outro é a nossa estrutura tributária; as empresas pagam muitos impostos e tributos no país, e isso afeta a competitividade. Temos dado passos importantes para mitigar essa questão, com a inclusão de diversas atividades características do turismo no Plano Brasil Maior, no ano passado, o que deu a esses setores (hotéis, companhias aéreas, transporte rodoviário de passageiros) um desconto no INSS de centenas de milhões de reais ao ano. Nosso próximo passo é estudar formas de devolver ao turista parte dos gastos feitos em serviços no Brasil. Essa possibilidade foi aberta pelo Siscoserv, o sistema do governo federal que permite discriminar gastos com serviços.

 

 

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