Não é hora de oportunismo

Os brasileiros vivem hoje um grande momento turístico. O anúncio feito ontem pelo Banco Central mostra que, nos primeiros cinco meses do ano, os gastos em viagens internacionais chegaram a US$ 10,3 bilhões (cerca de R$ 23 bilhões, pela conversão do dólar hoje). Isso sinaliza algumas questões importantes que precisam ser discutidas e soluções encontradas.

Acho que a primeira leitura que pode ser feita é que, diante do processo do governo de melhorar a vida da população, criou-se um novo patamar de desejos. O “sonho de Ícaro” prosperou na mente de milhares de pessoas, que antes sequer cogitavam dessa possibilidade, e o mundo passou a ser a tal “aldeia global” que sempre se falou. Turquia, estimulada pela novela Salve, Jorge, da TV Globo, passou a ficar na esquina do complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Os cruzeiros pelas ilhas gregas são tão factíveis hoje para a população quando uma ida à Ilha de Paquetá, no Rio, ou Itaparica, em Salvador.

Da mesma forma, a difusão de sites de compras coletivas, como ClickOn, GroupOn e tantos outros, deu à população a possibilidade de parcelar os sonhos e conhecer, a preços mais acessíveis a uma nova realidade, qualquer cidade que deseje. Inclusive com pacotes para complexos hoteleiros do Caribe, - promessa de sol, céu azul e águas de um azul transparente – com todas as refeições e bebidas, que chegam a ser mais em conta que uma viagem para certos destinos nacionais.

Essa talvez seja outra razão para esses altos gastos no exterior. Hoje acaba saindo mais barato, pelo menos no que diz respeito a passagens, ir a Buenos Aires que viajar a Salvador. As tarifas praticadas pelas companhias aéreas são muito altas e, muitas vezes, uma simples ponte aérea entre Rio e São Paulo pode custar mais de R$ 1 mil. Além disso, hoje pensar em turismo rodoviário, onde o passageiro fica 27 horas em um ônibus, quando pode ficar menos de três horas em um avião, é inviável.

Sabemos que serão feitas políticas de contenção de saída de divisas, inclusive a alta do dólar, certamente, irá desanimar alguns turistas que estavam programando aquela “viagem dos sonhos”. Então, é hora de focar no mercado nacional já que é preciso oferecer a esse novo consumidor, que criamos e estimulamos, opções de viagens. Trabalhar a infraestrutura local é essencial para que continuemos a girar esses recursos, só que dentro de uma nova proposta, que irá possibilitar a capacitação de novos profissionais e a geração de empregos dentro de nosso território.

Entretanto, é necessário que entidades como a Embratur, as agências estaduais e municipais de turismo, sindicato da indústria hoteleira e companhias aéreas, mesmo as empresas de ônibus para roteiros mais curtos, fiscalizem os seus segmentos e entendam que não é hora de oportunismo. É importante lembrar que o fluxo turístico pode ser constante se o atendimento for bom e os preços justos, permitindo que se faça a propaganda boca a boca, tão essencial no setor. Aproveitar o momento para querer ganhar em dois meses o que era previsto para um ano pode matar a galinha dos ovos de ouro e colocar tudo a perder.

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